«Histórias de além Terra» Capítulo 1 / Germinal: Solo Planetário

«Histórias de além terra»

Capítulo 1 – Do imenso desconhecido que nos rodeia

 

Ter o universo como palco foi um desafio que desde logo me atraiu. Quando o desafio se cumpre, vem o verdadeiro voo e a perspectiva muda... O pensamento torna-se mais abstracto, quase fora do meu alcance. É uma imensidão de espaço a preencher, mas é inevitável desejar mergulhar. O texto original, da autoria da Regina, serve-me de fio condutor. Eu e a equipa que reuni olhamos para o projecto como sendo um trabalho em desenvolvimento, um percurso de experimentação, de descoberta e de risco. O projecto envolve ferramentas novas e desconhecidas, uma vastidão de tarefas ainda por aprender. Mas é grande a nossa vontade de projectar para uma cúpula e poder dançar de pernas para o ar, como o Fred Astaire ou um asteróide à deriva.

 

          Leonor Keil

Peça de vídeo-dança fulldome com 30 min de duração.

 

 

 

Cúpula do Planetário do Porto – Centro Ciência Viva

Ter. Qui. Sáb. Dom. às 17:30, de 19 Janeiro a 17 Fevereiro, 2019

 

Estreia: Sex., 18 Jan. 2019, 18h45

[com a presença de Leonor Keil, Edgar Massul,  Stephan Jurgens, Roger Oliveira, Rodrigo Amado, Sara Barbosa (Cão Danado) e Paulo Pereira (Planetário do Porto CCV)]

 

Entrada gratuita / limitada ao número de lugares / sem reservas

 

 

 

Elevemo-nos acima do plano e vejamos se a criação não tem espaço?

Num desafio lançado a Leonor lancei faíscas para fazer fogo. Fiquei com uma centelha, com a esperança que esta se desprendesse do corpo incandescente que é a criação para um ambiente imersivo, como o do interior da cúpula do planetário.

Inspirações. Luzes vivas em movimento resultam do choque duro entre a criação e a realidade. Estrelas em combustão. Da centelha, faúlhas para a Regina e Cão Danado. Lampejos. O tempo que não chega. E a criação como a vejo? Clarão! Da cúpula do Planetário brilha um Universo de possibilidades. 

 

          Paulo Pereira / Planetário do Porto CCV

 

Cão Danado /  Germinal 2018

O Projeto Germinal parte da necessidade de partilha de métodos e saberes inscritos na obra individual dos seus intervenientes, a incessante inquietação que sempre motivou a investigação e criação, por parte da equipa Cão Danado, relativamente à atualidade e na forma de “ser” e “estar” cooperante e sinergética associada às cumplicidades com os criadores convidados motiva este trabalho de laboratório em circuito aberto com e para o questionamento social envolvente, questionando e alicerçando processos e metodologias de trabalho que ultrapassam o circuito por vezes tão efémero e redundante do teatro e do ato criativo individualizado.

 

 

 

Não sei se todos os presentes praticam a consulta do horóscopo.

Em regra, há bastante mais gente a ler as previsões

diárias, semanais, mensais ou anuais

do seu signo

do que pessoas a confessar que o fazem.

Seja como for, rara é a criatura humana

mesmo nesta moderna sociedade ocidental

que não sabe o que são signos do zodíaco

e a que signo pertence.

Em contrapartida talvez nem todos saibam

o que é o Serpentário.

Não, não é um infantário onde as crianças convivem com serpentes

ou são ensinadas a rastejar serpenteando.

Não, não é um parque zoológico especializado em ofídios, vulgo cobras.

Na verdade Serpentário designa uma insuspeitada décima terceira constelação zodiacal

e portanto um novo signo astral.

A bomba caiu no pacato continente da comunidade astrológica em 2011

quando o astrónomo Parke Kunkle,

da Universidade de Minnesota nos Estados Unidos

publicou um estudo alegando uma mudança de rotação da Terra

a qual teria seguramente alterado a posição

em que as estrelas eram avistadas a partir do nosso planeta.

Isto, claro está, por comparação com a época histórica em que o Zodíaco foi inventado,

sendo que os primeiros escritos astrológicos datam de há 5000 anos

e aparecem em tabletes de argila no território da Mesopotâmia.

E não nos esqueçamos que nesses tempos longínquos

embora a distinção entre astrologia e astronomia já existisse no tempo de Ptolomeu,

os sábios pensavam

e continuaram durante muitos séculos a pensar

que o Sol girava à volta da Terra.

 

Note-se que a existência da constelação de Ofíuco – ou do Serpentário – já em 1930 fora oficializada

pelos astrónomos da União Astronómica Internacional.

A ideia de Parke Kunkle era provar que o horóscopo não faz nenhum sentido,

mas, na verdade, no domínio da crença a verdade pouco importa

e, no domínio da ciência, as verdades vão-se sucedendo

ao ritmo da inquietação e da investigação dos humanos.

Bem vistas as coisas,

as fake news de que tanto hoje se fala

encontraram nas mentes dos homens terreno ancestralmente fértil para proliferarem

e desde Goebbels, ministro da propaganda de Hitler que sabemos

que uma mentira se pode tornar verdade desde que suficientemente repetida.

É bastante cómico pensar que há pessoas para estudar e pessoas para se sentirem estudadas

em função do céu tal como ele se apresentava há alguns milénios.

 

O zodíaco é um conjunto de constelações situadas ao longo da eclíptica

–  projecção sobre a esfera celeste da trajectória aparente do Sol observada a partir da Terra,

isto é o caminho percorrido pelo sol durante um ano.

A constelação do Serpentário fica entre o Escorpião e o Sagitário

e a sua introdução na faixa dividida em doze casas

introduz grande transtorno nas pertenças a tal ou tal signo:

quem era Virgem pode tornar-se Leão

quem era Touro pode tornar-se Carneiro

e por aí fora.

De súbito, a despeito da tendência a agarrar-se ferozmente a uma crença,

alguns supersticiosos ferventes

daqueles que tatuaram o signo no braço ou na barriga, na nuca ou na nádega,

vivem horas de imprevista angústia.

Isto para não falar dos que escolheram companheiro de vida

em função dos perfis zodiacais.

 

Pela parte que me toca,

o mais belo do legado astrológico

é fazer-nos ver animais no céu

e permitir-nos prolongar

quiça por uma vida inteira

a ideia de que o escuro é habitado por animais.

Mas o mais comovente

e porventura o motivo pelo qual nos encontramos neste planetário

– já agora porque não se chama estrelário??? –

é saber que desde sempre

ou pelo menos desde há muito muito

os homens olham o céu,

interrogam-no

e sentem-se pertença do universo.

E o certo é que nada nos garante

que essa acção dos astros sobre os homens

acerca da qual os astrólogos fantasiam

não exista de facto

embora faça parte

do imenso desconhecido que nos rodeia.

 

          Regina Guimarães

 

 


ignição

Paulo Pereira

 

concepção, criação, interpretação

Leonor Keil

 

texto

Regina Guimarães

 

artista visual

Edgar Massul

 

edição e pós-produção

Roger Oliveira

 

video designer

Stephan Jurgens 

 

fotografia e vídeo

Bruno Simão 

 

figurino

Catarina Keil

 

saxofone, direcção musical, edição e remistura

Rodrigo Amado

 

saxofone e trompete

Joe McPhee

 

contrabaixo

Kent Kessler

 

bateria

Chris Corsano

editado a partir das master takes de “A History of Nothing” de Rodrigo Amado (Trost Records)

 

 

 

agradecimentos

Maria Ribeiro, Teatro do Bairro, António Pires, Filipe Pires, Amarante Abramovic, Daniel Blaufuks.

 

público

m/ 8 anos 

 

duração

30 minutos

 

 

produção CÃO DANADO  |  co-produção PLANETÁRIO DO PORTO CCV

 

Consultar informação no website do Teatro O Cao Danado https://caodanado.com/producoes/historias-de-alem-terra

 

Evento no Facebook.




DETALHES
Local: Planetário do Porto CCV

Dia de inicio:
2019-01-18 - 18:45
Dia de fim:
2019-02-17 - 18:00

Evento gratuito
Adicionar à minha agenda 2019-01-18 18:45 2019-02-17 18:00 Europe/Lisbon «Histórias de além Terra» Capítulo 1 / Germinal: Solo Planetário

«Histórias de além terra»

Capítulo 1 – Do imenso desconhecido que nos rodeia

 

Ter o universo como palco foi um desafio que desde logo me atraiu. Quando o desafio se cumpre, vem o verdadeiro voo e a perspectiva muda... O pensamento torna-se mais abstracto, quase fora do meu alcance. É uma imensidão de espaço a preencher, mas é inevitável desejar mergulhar. O texto original, da autoria da Regina, serve-me de fio condutor. Eu e a equipa que reuni olhamos para o projecto como sendo um trabalho em desenvolvimento, um percurso de experimentação, de descoberta e de risco. O projecto envolve ferramentas novas e desconhecidas, uma vastidão de tarefas ainda por aprender. Mas é grande a nossa vontade de projectar para uma cúpula e poder dançar de pernas para o ar, como o Fred Astaire ou um asteróide à deriva.

 

          Leonor Keil

Planetário do Porto CCV 1440 Planetário do Porto - Centro Ciência Viva